O entrevistado desta edição é o Wilfred Bruijn, mais conhecido como “Bill”, matemático com MBA em Finanças, cuja trajetória profissional é marcada por sua experiência como CEO de grandes empresas. Além de sua sólida atuação no mundo corporativo, Bill também se destaca como consultor estratégico e exerce a função de Cônsul Honorário dos Países Baixos em Belo Horizonte. Sua expertise em gestão, finanças e relações internacionais faz dele uma referência na construção de conexões empresariais e diplomáticas entre o Brasil e os Países Baixos
Sobre sua trajetória profissional: Como foi a experiência de liderar grandes empresas como a Usiminas e a Anglo American? Quais foram os principais desafios e aprendizados ao longo de sua carreira como CEO?
Iniciei minha trajetória profissional numa instituição financeira, o Banco Aymoré de Investimentos, no Rio de Janeiro em 1985. Este banco fazia parte do Grupo Banco Holandês Unido, que depois ficou melhor conhecido aqui no Brasil, como o Banco ABN AMRO. Passei 7 anos no ramo financeiro, mas quando a maioria dos bancos transferiu suas sedes para São Paulo, eu preferi buscar algo novo. E acabei caindo de paraquedas na mineração. Digo isso, porque não sou engenheiro de minas, e nem geólogo as competências mais afins deste setor. Sempre fui mais das exatas. Fui recrutado pela Minerações Brasileiras Reunidas – MBR em 1992, e isso motivou a minha mudança para Belo Horizonte, onde moro até hoje. Em 2007 a Vale comprou a MBR e me “comprou” também. Após três anos nesta grande mineradora, fui convidado para liderar as reservas minerais, que a Usiminas havia recém adquirido, na região de Itatiaiuçú, a uns 50 kms de Belo Horizonte, na direção de SP. Lá fui o CEO da Mineração Usiminas SA, carinhosamente apelidada de MUSA. Ao longo de 9 anos desenvolvemos a atividade de extração de minério de ferro, com vendas para a própria Usiminas (Usinas de Ipatinga e Cubatão), bem como para o mercado externo, em especial para o Oriente Médio e para o mercado asiático. Em 2018 achei que era hora de uma mudança e até mesmo já uma desacelerada na carreira, e tirei uns meses sabáticos. Uma delícia! Mas poucos meses depois fui chamado para presidir a Anglo American no Brasil, respondendo por duas atividades, a saber: produção de Níquel em Goiás e Minério de Ferro em Minas Gerais.
Estas duas posições mais recentes, e que ao todo me deram 15 anos de experiencia como CEO de grandes empresas, foram extremamente gratificantes. Percebi, que na verdade eu nunca fui um especialista nas exatas, mas sim em humanas. Isso porque liderar, significa orientar, motivar, alegrar, e desenvolver pessoas. Criar meios e um ambiente para que cada um possa se sentir psicologicamente seguro para dar de si o máximo de suas capacidades criativas. Assim, a produtividade cresce sem stress, num clima onde a felicidade deve e pode imperar em prol dos resultados da empresa. Sempre quando olho para trás vejo com muita gratidão o caminho trilhado e tantas pessoas fantásticas tidas como colegas e amigos!
Áreas de atuação: Sua formação em matemática pela Manhattanville University e o MBA em finanças moldaram sua abordagem no mundo corporativo. Como essas áreas do conhecimento influenciaram suas decisões estratégicas e seu estilo de liderança?
No ensino médio, fui um aluno mediano, preferindo jogar bola e pegar praia a estudar, embora sempre tivesse afinidade com números. Estudei na Escola Americana do Rio de Janeiro e, ao concluir o high school em 1982, optei por cursar faculdade nos EUA, ingressando na Manhattanville University, ao norte de Manhattan. Sem uma ideia clara sobre o curso, escolhi matemática e, após três anos, obtive meu diploma. Planejava fazer um MBA na New York University (NYU), mas fui aconselhado a ganhar experiência antes, o que me levou de volta ao Rio, onde iniciei minha carreira bancária. Em 1987, conclui um MBA em Finanças no IBMEC para fortalecer meu currículo. Esses cursos me proporcionaram raciocínio lógico, análise crítica e habilidades na resolução de problemas, mas foi a experiência prática, sobretudo no setor de mineração, que despertou em mim o prazer de liderar pessoas e entregar resultados, sempre buscando atender às expectativas dos superiores e acionistas.
Conexão com a Holanda: Sendo o senhor Cônsul Honorário dos Países Baixos em Belo Horizonte, qual foi a influência da cultura e da economia holandesa em sua trajetória pessoal e profissional?
Nasci nos Países Baixos, em 1964, na cidade de Hengelo, próxima à fronteira com a então Alemanha Ocidental. Desde os primeiros meses de vida, ouvia baixinho músicas de uma emergente banda de Liverpool para pegar no sono. Aos seis anos, em 1970, conheci o Brasil, um país grande, diferente e fascinante, embora a língua tenha sido um desafio inicial. Vim com meus pais e minha irmã, todos holandeses, e em casa falávamos holandês, mantendo tradições para preservar nossa conexão com a terra natal. Naquela época, no Rio de Janeiro, havia uma colônia holandesa de cerca de 300 pessoas, fortalecida pela presença de empresas como Shell, KLM, Philips e Unilever, o que proporcionava encontros frequentes e reforçava o contato com a língua e cultura neerlandesa. Ainda assim, com o tempo, fui me tornando cada vez mais brasileiro, sem jamais perder minhas raízes. Essa dualidade cultural foi essencial para minha compreensão de diferentes perspectivas, algo valioso tanto na vida pessoal quanto nas negociações comerciais, onde entender o que é importante para quem está do outro lado da mesa pode fazer toda a diferença. Sempre me encantou essa troca de tradições, crenças e costumes!
Nomeação como Cônsul Honorário: O que significa para o senhor ter recebido essa nomeação? Poderia nos contar um pouco sobre como surgiu essa oportunidade e o impacto dessa função em sua vida?
Certo dia, recebi um e-mail do Cônsul-Geral dos Países Baixos no Rio de Janeiro me convidando para um almoço. Fomos a um restaurante no aeroporto Santos Dumont, com a belíssima vista do Pão de Açúcar, e, entre conversas, pouco antes da sobremesa, ele me perguntou se eu teria interesse em ser Cônsul Honorário em Belo Horizonte. Sem hesitar, aceitei de imediato, sentindo-me honrado por poder servir meu país de origem e auxiliar meus compatriotas. Isso foi em 2017, e desde então, já se passaram quase oito anos nessa função. Até hoje, não sei como ele me encontrou, um mistério que permanece. Assumir esse papel me permitiu estreitar laços com a comunidade holandesa em BH, oferecer apoio a quem precisa, coorganizar eventos e participar de celebrações. Além disso, foi extremamente gratificante me inserir na comunidade consular da cidade, conhecer colegas de outros países, trocar experiências e ouvir histórias fascinantes, um verdadeiro “bônus” ao lado das responsabilidades do cargo.
Funções e projetos como Cônsul: Quais são os principais projetos e iniciativas que o senhor está conduzindo ou pretende desenvolver em sua posição como Cônsul Honorário dos Países Baixos? Como essas ações contribuem para fortalecer os laços entre o Brasil e a Holanda?
Os Países Baixos possuem uma estrutura diplomática e de negócios no Brasil composta por uma Embaixada em Brasília, dois Consulados Gerais (em São Paulo e no Rio de Janeiro) e 10 consulados honorários, além de dois escritórios NBSO em Porto Alegre e Belo Horizonte, este último liderado por Hans Blankenburgh e Luiza Andrade. Recentemente, após as tragédias de Mariana e Brumadinho, empresas neerlandesas especializadas em segurança de barragens ofereceram consultoria às mineradoras, aproveitando sua expertise na contenção de água, essencial para um país em grande parte abaixo do nível do mar. Da mesma forma, empresas neerlandesas auxiliaram o Rio Grande do Sul nas enchentes do ano passado, contribuindo com conhecimento e apoio financeiro. Além disso, os Países Baixos e a União Europeia demonstram interesse em atividades relacionadas aos minerais críticos, fundamentais para a transição energética e o combate às mudanças climáticas, representando um grande desafio pela frente.
Próximos passos e dicas de sucesso: Quais são suas próximas investidas profissionais ou projetos que planeja liderar? Que conselhos o senhor daria para aqueles que buscam alcançar sucesso e se destacar em suas respectivas áreas?
Recentemente, me “aposentei”. Após 5 anos à frente Anglo American do Brasil e 40 anos de carreira, optei por aproveitar um pouco mais o tempo livre. Me dedico agora a praticar esportes diariamente, viajar com mais frequência aos Países Baixos para ver minha família, prestar uma consultoria aqui e acolá, encontrar os amigos e me divertir!
Como conselhos para alguém ter sucesso, são muitos e na maioria simples. Ser respeitoso e carinhoso com as pessoas. Buscar trabalhar em uma atividade que seja prazerosa. Eu olho para trás e tive 40 anos de felicidade profissional. Claro, diversos momentos tensos, difíceis, complexos, mas no final as “positive vibes” sempre sobressaíram. Busquem compreender bem, a missão que lhes foi dada, e transformá-la em algo ainda melhor, criativo e surpreendente. Assim o senso de realização e orgulho estarão estampados no peito dos futuros líderes. Boa sorte!!