Minas Gerais, um dos estados mais importantes do Brasil, sempre teve uma relação peculiar com o processo de internacionalização. Desde o período colonial, quando suas riquezas minerais atraíram a atenção da Coroa Portuguesa, até os dias atuais, o estado desenvolveu uma política que equilibra a preservação de suas tradições com a inserção na economia global.
Raízes Históricas da Internacionalização Mineira
Desde o século XVIII, Minas Gerais era um dos principais polos econômicos do Brasil devido às suas jazidas de ouro e diamantes. A exploração desses recursos atraiu mercadores estrangeiros e fez da capitania um centro de relações comerciais internacionais, ainda que sob a tutela de Portugal. O envio de metais preciosos, principalmente para a Inglaterra, e a influência de ideias iluministas vindas da Europa foram exemplos dessa interação com o exterior.
No século XIX, com a transição para a economia cafeeira, Minas Gerais fortaleceu sua inserção no mercado global, tornando-se um dos maiores produtores de café do Brasil e estabelecendo relações comerciais importantes com os Estados Unidos e a Europa. O desenvolvimento da infraestrutura, como ferrovias e a expansão da energia elétrica, ajudou a consolidar a posição mineira no cenário econômico internacional.
A década de 1950 reafirmou o caráter internacional de Minas Gerais, especialmente com a realização de jogos da Copa do Mundo no recém-inaugurado Estádio Municipal, localizado na região do Horto Florestal. Foi nesse contexto que surgiu o Corpo Consular, criado para responder às demandas dos estrangeiros residentes no estado.
Em dezembro de 1952, uma comissão formada pelos cônsules da Bélgica, Jean Tjiry; da Grã-Bretanha, Harold V. Walter; da Suíça, Richard Wangle; da Síria, Antônio Cadar; e da Holanda, Jan Bovendorp, reuniu-se na sede do Consulado Italiano para tratar da fundação do Corpo Consular e traçar planos e normas de funcionamento. Desde então, o Corpo Consular tem trabalhado em conjunto com o estado, há mais de 70 anos, fortalecendo as relações internacionais e promovendo a cooperação bilateral em diversas áreas.
Governadores e a Internacionalização de Minas Gerais
Vários governadores de Minas Gerais ao longo da história tiveram um papel crucial na expansão internacional do estado. Alguns dos mais importantes incluem:
Juscelino Kubitschek (1951-1955)
Antes de se tornar presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek foi governador de Minas Gerais e implementou políticas de industrialização que ajudaram a projetar o estado no cenário internacional. Seu foco no desenvolvimento da indústria automobilística e na ampliação das estradas facilitou o comércio com outros países.
Hélio Garcia (1984-1987 e 1991-1995)
Durante seus dois mandatos, Hélio Garcia trabalhou para fortalecer a economia mineira e buscar novos mercados para os produtos do estado, ampliando parcerias com investidores estrangeiros, especialmente no setor de mineração.
Aécio Neves (2003-2010)
A gestão de Aécio Neves foi marcada por uma forte política de atração de investimentos estrangeiros. O programa “Choque de Gestão” modernizou a administração estadual e promoveu o fortalecimento da economia, abrindo Minas Gerais para parcerias internacionais, especialmente na indústria e na exportação de commodities.
Fernando Pimentel (2015-2018)
Com uma visão voltada para o desenvolvimento econômico, Fernando Pimentel buscou ampliar a internacionalização da economia mineira por meio da atração de investimentos chineses e europeus, especialmente nas áreas de infraestrutura e energia.
Romeu Zema (2019-atualidade)
Romeu Zema tem adotado uma estratégia agressiva de internacionalização, focando na abertura do mercado mineiro para o setor privado. Sua gestão tem priorizado a desburocratização, a atração de investimentos estrangeiros e o fortalecimento das exportações, especialmente do agronegócio e da mineração.
A Importância do Corpo Consular
Um elemento essencial para a consolidação das parcerias internacionais de Minas Gerais é o Corpo Consular, que desempenha um papel fundamental na intermediação de relações diplomáticas e econômicas. A presença de consulados no estado possibilita o estreitamento de laços com países parceiros, facilitando acordos comerciais, investimentos e intercâmbios culturais. Além disso, o Corpo Consular atua na mediação de negociações bilaterais e na promoção de oportunidades econômicas para as empresas mineiras no exterior.
Há mais de 70 anos, o Corpo Consular tem trabalhado lado a lado com o governo mineiro para ampliar a presença internacional do estado. Suas atividades incluem apoio a missões comerciais, eventos de networking entre empresas locais e estrangeiras, além da facilitação de investimentos que impulsionam setores estratégicos como mineração, agronegócio e tecnologia.
Conclusão
Minas Gerais tem demonstrado, ao longo da história, uma postura pragmática e estratégica em relação à internacionalização. Desde o período colonial até a atual gestão de Romeu Zema, o estado tem equilibrado a preservação de suas tradições com a necessidade de ampliar sua inserção no mercado global. O futuro da internacionalização mineira dependerá da continuidade de políticas que promovam um ambiente favorável para negócios e investimentos estrangeiros, garantindo o crescimento sustentável do estado. Nesse cenário, o Corpo Consular continuará desempenhando um papel crucial na facilitação dessas relações, consolidando Minas Gerais como um estado fortemente conectado ao mercado global.
Ramaya Vallias
Diretor Secretário e de Relações Internacionais do Corpo Consular
FONTE:
Inistituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais
Atas de constituição da Associação dos Membros do Corpo Consular no Estado de Minas Gerais.